segunda-feira, 28 de março de 2016

Caleidoscópio

Era dia, mas eu via a lua
Pela janela
E o dia
Se repetia
Reverberava na rua
Se eu corresse um pouco
Me encontraria
*
Você vestida parece outra
Somos agora
Ruídos de nós
Personagens de nós mesmos
Vibrando em cadências diferentes
E agora quando te vejo
Sequer te reconheço
Não lembro, olhar, beijo
Uma estranha que gostaria de conhecer
Mas nós nunca nos encontraremos no metrô
Quem é você?
*
Faltava 5 minutos para o fim do turno
O telefone toca
Ele fingiu que não ouviu
Entrou no banheiro
Fechou a porta com cuidado
João que estava do lado de fora
Escutou o tiro
Tinham acabado de brincar sobre futebol
E dado algumas risadas

Ninguém sabe o por quê
*
O velho surgiu atrás da arvore
Com o catavento para a menina
Vermelho metálico
Girava
A menina pegou de sua mão
Um beijo no avô por educação
Depois de alguns minutos
O catavento na grama
Os dedos ágeis da menina
Corriam numa tela fria
*
O café com leite
Sempre o mesmo gosto
Os carros, ônibus, aviões
No centro de SP
Tudo se distorcia
Ele olhou o céu
Por entre as frestas
Sabia que a tragédia e a dádiva
Eram suas
Era dia, mas ele via a lua

sexta-feira, 18 de março de 2016

Ensaio Onírico Incompleto

Fiz um labirinto para brincar
Corri sem direção
Encontrei alguém
Caído no chão

“Um desfribilador para reanimar”
“Será que já morreu?”
Então eu vi aquele olhar
Aquele corpo era eu

Ele disse: me deixe aqui
Não há nada para mim
Este tempo não é meu
Eu só quero o fim

Eu disse não é para desistir
Amanhã pode tudo mudar
Então ele se tornou pó
Sumindo no ar

Corri novamente
Pensei: Saída não deve ter
O grito nos meus dentes
E eu a desaparecer