quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

A FILA

Muito tempo já havia se passado desde que os dois amigos entraram na fila

“Não tenho absolutamente nada a comentar” Tobias falou ao seu amigo na imensa fila que dava a entrada do prédio principal.

“Tudo bem”, concordou distraído seu amigo Jonas olhando o tráfego escasso.

“Vamos mudar de assunto... como está a Sofia? ” Tentando fazer com que ele realmente esquecesse o assunto anterior.

“Ela está bem já está andando, o tempo passou bem rápido não é meu amigo? ”

“Acho que sim, parece que foi mês passado que você comentou que a Esther estava gravida, foi um choque ouvir isso, mas demorou pouco para me acostumar com a ideia. Devo confessar que no mesmo dia a noite tudo parecia em seu lugar, você pai já havia se tornado uma ideia aconchegante na minha cabeça, fiquei realmente feliz por isso”

“Agradeço-te pelas palavras meu bom amigo... Queria acrescentar que é muito agradável estar aqui com você a esperar a nossa vez, mal posso esperar, temos 25 anos de vida e 15 de amizade, antes dos 30 entraremos lá ”

“Sim, digo-te o mesmo, sinto-me ótimo também em poder compartilhar esse evento contigo, a propósito, já estamos na fila desde quando? ”

“Em maio completamos 6 anos nessa fila” respondeu Jonas.

“Tenho certeza que todo nosso esforço valerá a pena, poderá oferecer à Sofia tudo que ela precisa para seu desenvolvimento, a Esther vai ter a vida que sempre sonhou” comentou Tobias motivando ainda mais seu amigo.

“Com certeza, não vejo a hora de entrarmos”

Mais alguns anos escorreram

Quando estavam próximos do prédio principal olhavam pelo imenso portão que se abria a cada tempo para que apenas algumas das pessoas entrarem, quando olhavam para trás não conseguiam ver o fim.

Sentiam vibrar aquela sensação indescritível que temos momentos antes de almejar aquilo que esperamos durante tantos anos.

Mal podiam conter a alegria, alguns choravam, outros se abraçavam, outros telefonavam para os seus familiares para contar as boas novas, iriam finalmente entrar!

“Tobias, meu amigo ninguém aqui tem certeza do que teremos ao entrar no prédio principal, mas com certeza teremos uma vida muito melhor do que temos agora, em instantes teremos nossos sonhos realizados! ”

“Jonas, quero aproveitar um pouco desse prêmio contigo, depois de todo esse tempo iremos comemorar junto, espero ansioso ver os olhos da Sofia brilharem quando voltarmos para nossas casas, estamos tanto tempo nessa amizade que vejo em Sofia uma sobrinha, pois considero-te como um irmão! ”

Antes que Jonas pudesse responder, o portão se abriu e todos começaram a caminhar, tudo era organizado pelo pessoal que trabalhava no prédio principal. As pessoas iam entrando maravilhadas com a estrutura do prédio e sua arquitetura peculiar que misturava o colonial com o moderno.Os corredores luxuosos davam para uma enorme sala principal. Antes de entrarem, todos pegaram uma esfera branca com um símbolo desenhado em tinta preta fosca. Ao fundo havia um palco com um telão gigantesco atrás. Em cima do palco estavam sentados alguns funcionários e o oficial, em silêncio observavam a pequena multidão que entrava.

Aos poucos e de maneira ordenada a sala se encheu completamente. A atmosfera era de esperança nos cochichos contínuos daqueles que estavam ali. Automaticamente todos fizeram silêncio, quando o oficial se levantou para iniciar a sua fala. Como nenhum daqueles que estavam ali tinha passado por essa fase, não faziam ideia do que ocorreria na sala, ou que viria na sequência. Mas sabiam que só de entrarem no prédio principal faziam parte de uma elite da sociedade.

O oficial simplesmente ordenou que todos aqueles que tivessem o símbolo iguais aos que aparecessem no telão se dirigissem para a sala à direita e os que não tivessem o símbolo se dirigissem à sala à esquerda. Depois de algum tempo começou a aparecer os símbolos na tela, o processo era também demorado, a felicidade inicial deu lugar à preocupação com esse método de divisão, perguntavam-se "o que fariam de diferente em uma sala e outra?" Muitos se revoltaram por terem esperado tanto tempo e ainda não tinha recebido a recompensa por todo o esforço empregado nos últimos anos.

Tomas foi selecionado entre os 50 primeiros, antes de ir para a sala destinada olhou para Jonas e sussurrou “te espero lá” e partiu. Jonas ainda ficou durante muito tempo observando atentamente o telão para ver se o símbolo que carregava na mão aparecia. Logo veio, seu corpo estremeceu e gelou, foi caminhando para a próxima sala, subiu um lance de escadas e sentia suas pernas tremendo. Lá ia se formando uma nova fila perto da porta, em que um funcionário ia distribuindo os cartões com números. 

Todos se sentaram conforme iam pegando suas numerações, as cadeiras estavam dispostas em frente a uma parede que não tinha nada, nessa sala eles foram informados que deveriam aguardar mais um pouco.  Depois de algum tempo todos já estavam conversando fora de seus lugares, alguns otimistas comemoravam que estavam dentro do prédio principal e outros estavam frustrados, pois achavam que já teriam sido instruídos e premiados ao entrar no prédio. Tobias fazia parte do primeiro grupo e Jonas do segundo.

Mais alguns anos escorreram

Numa bela manhã o oficial entrou, novamente o silencio se fez na sala, ele disse: Os números que eu chamar adentrem na porta a sua esquerda e os que eu não chamar adentrem na porta à direita, e assim se iniciou novamente a divisão do grupo.

Tobias foi chamado despediu-se de seu amigo novamente dizendo, como anos atrás, que o esperava na próxima sala, sorrindo entrou na porta à esquerda. Jonas estava ansioso, a cada número que chamavam seu coração batia mais forte, quando de repente o oficial parou de chamar os números e ordenou ao grupo restante que fossem pela porta da direita, todos se olharam assustados, muitos ainda otimistas seguiam felizes pelo extenso corredor. Ao final tinha uma escada que Jonas foi descendo rapidamente, ansioso tomou a frente dos demais e olhou para a porta, a luz do dia feriu seus olhos, depois de alguns segundos viu que estava na rua. Deu a volta no quarteirão e do outro lado viu aquela fila que ele e seu amigo tinham ficado durante anos para entrar no prédio principal.


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Naquela tarde Sofia lia um livro tranquila quando ouviu batidas na porta, quando abriu não reconheceu o velho de cabelos brancos que a chamava pelo nome.





terça-feira, 5 de dezembro de 2017

No seu olhar

Minha alma me guia pelo caminho
que vai sendo escrito pelos meus pés
Respiro a poeira da estrada
Sob a luz da estrela sagrada
Até a fonte

O fluxo do tempo gira em círculos
Diante dos meus olhos
Eu vejo todas as raízes
Se entrelaçando sem fim
Até a fonte

Num turbilhão entrei
Percorri mil anos ou mais
Superei a morte e a vida
Para te reencontrar

Num segundo segurei a eternidade
Como uma estrela a brilhar
Me aqueci na chama amor
Que reencontrei no seu olhar